Os avanços da Reprodução Assistida têm possibilitado a geração de bebês saudáveis em casos de homens portadores do vírus HIV e Hepatites B e C. O tratamento indicado para esses pacientes é a lavagem seminal. A técnica consiste em processos de centrifugação e ultra-filtragem que isolam do líquido seminal, os espermatozoides livres de contaminação do ambiente onde o vírus se concentra – o líquido seminal – e possibilitando assim a utilização de espermatozoides sadios para procedimentos como a IA (inseminação artificial) e FIV (fertilização in vitro). Os resultados dependem de fatores interligados, como a qualidade e a quantidade de espermatozoides, antes e depois do processo de lavagem seminal.

Etapas do tratamento

Antes de se submeter ao tratamento, os pacientes precisam passar por exames de avaliação da infecção pelo HIV e o potencial reprodutivo. É preciso checar se existem fatores que possam comprometer a função reprodutiva, independentemente da presença do vírus HIV, mas é importante avaliar a saúde como um todo. Este é um trabalho integrado entre infectologistas e o Grupo Huntington.

Após o monitoramento da infecção pelo HIV, avalia-se o esperma do paciente, que é coletado e submetido a processos de centrifugação, lavagem e filtragem. Essas etapas vão separar o plasma seminal (que concentra o vírus) dos espermatozoides. Uma pequena alíquota desta amostra é enviada para analise da quantidade de RNA viral presente, garantindo com isto a não contaminação da parceira nos casos de inseminação intrauterina ou FIV. A outra parte é congelada e mantida em ‘quarentena’. Caso os testes apontem a ausência completa do vírus, os espermatozoides congelados poderão ser utilizados em técnicas de Reprodução Assistida. A técnica é bastante complexa e pode possibilitar perdas de espermatozoides. Por isso, é necessário avaliar qual o tratamento posterior mais indicado para possibilitar a gravidez. Além disso, as condições da parceira também devem ser analisadas.

Em tratamentos de IA (inseminação artificial, considerado um tratamento de baixa complexidade), os espermatozoides sadios serão introduzidos no útero durante o período de ovulação. Na FIV, os espermatozoides são colocados em contato com óvulos em laboratório e os embriões resultantes serão implantados no útero. Outra possibilidade é a FIV por ICSI. Trata-se de uma técnica sofisticada, onde o espermatozoide selecionado é injetado no óvulo, em laboratório, para fertilização.

Com a lavagem seminal, o paciente portador de HIV tem a possibilidade de gerar um filho sem que mãe e bebê corram riscos de serem contaminados. A Huntington oferece o tratamento desde 2000 e mais de uma centena pacientes já se submeteram à técnica.

Existem três possibilidades de casos entre os casais:

1. Homem infectado e mulher não

É a mais comum e não existe contra-indicação para a gestação, pois se trata de uma mulher sadia. Quando o futuro pai é portador do vírus HIV e a mulher não, o procedimento adotado é a chamada lavagem seminal. Uma centrífuga permite que os espermatozoides infectados sejam separados dos sadios, para então serem inseminados ou tratados conforme a técnica de reprodução utilizada.

2. Homem e mulher infectados

O que definirá a realização ou não do procedimento, principalmente no caso do HIV, é o estado clínico de saúde da mulher. Se a carga viral positiva for baixa em ambos os parceiros e as condições clínicas da mulher forem satisfatórias, é possível a gravidez pelas técnicas de reprodução assistida.

3. Homem não infectado e mulher infectada

Neste caso, o quadro clínico da mulher é o fator limitante e tanto a inseminação intrauterina como a fertilização in vitro são indicadas. Entretanto, é importante esclarecer que nestas pacientes há um alto risco para outras doenças sexualmente transmissíveis e consequentemente maiores possibilidade de danos às tubas uterinas. No caso do HIV, a transmissão vertical (de mãe para filho) pode chegar a 25%. Condutas como a terapia medicamentosa para mãe e bebê, além da opção pela cesárea seletiva, podem reduzir a taxa de infecção pelo HIV para cerca de 1,5. A amamentação também deve ser evitada. Já nos casos de Hepatite o risco de transmissão vertical varia de 0,16% a 6,7% e está diretamente relacionado à carga viral materna. Enquanto a quantidade de vírus não for reduzida com os medicamentos disponíveis, as técnicas de reprodução assistida são contraindicadas para a mulher, pois os indutores de ovulação podem interferir na função hepática.